segunda-feira, 30 de maio de 2011

BDNF, Resiliência, Estresse e Depressão - Desvantagens do Reducionismo Biológico

A disponibilidade cerebral de “Brain Derived Neurotrofic Factor” (BDNF) é considerada uma medida laboratorial da resistência das pessoas aos sofrimentos e pressões do dia-a-dia (ou “Resiliência”, termo oriundo da física ou engenharia que empresta um discutível charme robótico), no sentido de protegê-las contra adoecimentos depressivos, e outros, em especial com deterioro da memória e perdas celulares na área do Hipocampo - importante centro cerebral supostamente responsável pela alocação e busca de memórias em diferentes áreas do cérebro.
“Resiliência”, entretanto, não deve ser considerada tão somente como uma capacidade inata para lidar com uma determinada "carga" de estresse. É sim o resultado dinâmico de um conjunto de fatores, que envolvem, sim, a predisposição genética biológica, mas também as heranças culturais, religiosas e até místicas de cada pessoa e seu grupo, atravessada pelas capacidades, herdadas ou descobertas, para engajar recursos cognitivos e estratégicos no enfrentamento das dificuldades e na busca por solução para os problemas, tal como se apresentam. Destacam-se ainda o contexto e os recursos sócio-econômicos com que conta para enfrentar as dificuldades, e, em especial, a qualidade, mais do que a quantidade, da carga "estressora". Cada situação estressora assume para a pessoa significado simbólico e emocional específicos, os quais são determinados / atribuídos por elementos tanto de sua história pessoal como de seu grupo social e étnico (ver Pierre Bourdieu e o conceito de Violência Simbólica), e atenuados pela crítica emotivo-dissociativa e a reação existencial conquistada pela pessoa - vulgo "insight", à moda da Teoria Crítica. Considerar a depressão do humor como o resultado direto de fatos biológicos não é conveniente, nem, provavelmente, verdadeiro, além de levar, no extremo, a uma veterinarização da psiquiatria e, como conseqüência, do homem tratado pelo psiquiatra, despojado de sua criatividade, paixões e inteligência curativas. Por mais que se fale “biologicamente” da resistência ao estresse por meio da disponibilidade cerebral de BDNF, não se deve esquecer que o estresse não é um fenômeno exclusivamente biológico, e que o BDNF é para o estresse, possivelmente, o mesmo que a sombra é para o objeto – e a sombra por óbvio não explica ou determina o objeto, e sim o contrário.