terça-feira, 29 de novembro de 2011

Os Sintomas das Depressões – Reconhecendo as Depressões

A Depressão é um dos sofrimentos psíquicos mais encontrados na população, e ocorre freqüentemente quando a pessoa se vê diante de uma situação da vida a qual, de um lado, julga inaceitável e, de outro, sente-se sem os meios necessários para enfrentar e mudar o que lhe parece intolerável. 



Em tal situação, que parece intolerável e incontornável, um sentimento pessimista de desamparo se instala progressivamente, levando a pessoa a duvidar de seu próprio valor e de suas capacidades, sentindo-se incompetente para lidar com sua vida e com suas dificuldades, atribuindo sua condição a falhas progressivamente mais amplas de sua personalidade - seu caráter ou personalidade, seus valores, sua incapacidade de "agir como os outros", sua aparência, sua origem, sua "má sorte intrínseca", castigos de Deus por ter tido algum mau pensamento ou algum mau procedimento, por falhas, erros ou pecados até mesmo mais além de sua existência - um "carma"de uma outra vida - ou por erros de outros, pelos quais agora está - como o "cordeiro de Deus que expia os pecados do mundo".



Às vezes, o pessimismo pode ser tão intenso que impede que a pessoa tome qualquer decisão, paralisando-a, deixando-a apática, privando-a de toda e qualquer iniciativa. Esta anergia (falta de energia) depressiva, aliada a uma profunda tristeza, nos extremos leva à deterioração do ambiente de vida da pessoa, impactando sobre a limpeza e a organização doméstica, os cuidados com os filhos e os dependentes, e até o aspecto e a higiene pessoal. O descuido pode estender-se para o não pagamento de contas e obrigações, ausência ao trabalho, ausência a compromissos, tudo por inação, ausência total de energia para dar início aos movimentos e aos atos necessários à tarefa. Quando não por efetivamente não lembrá-los.



Os pensamentos angustiantes, o desinteresse no que de passa ao redor, a desmotivação para ler, ouvir, prestar a atenção interferem com a capacidade de registrar novas informações, fatos vividos, contados ou lidos - como vimos acima, inclusive compromissos. Além disso, o pessimismo que se derrama sobre todas as representações e objetos faz com que para toda e qualquer tarefa ou compromisso, haja uma expectativa de dor, desprazer, angustia, fracasso inevitável, certeiro. Esquecer e evitá-los, levando ao que se chama tecnicamente de amnésia prospectiva - memória do futuro, do que pretendia fazer - é também sintoma que pode ser visto entre alguns pacientes depressivos.



O sono pode ser intenso e constante como uma fuga, ou impossível, inclusive pelo medo de vivenciar nos pesadelos suas piores fantasias. A pessoa pode custar muito a adormecer, ou ao contrário, adormecer de supetão, inclusive iniciando-se a experiência de sonhos relatáveis, prontamente, mal a pessoa adormeceu, até mesmo um pouco antes - o que é típico, e se confunde com outra condição denominada Narcolepsia, com manifestações semelhantes, neste aspecto (encurtamento da latência de sono REM) à Polissonografia (exame da qualidade do sono espontâneo com o registro de variados sinais fisiológicos num polígrafo digital e da observação em vídeo e áudio). Pode dormir, a noite toda, um sono superficial, não reparador, ou acordar muitas vezes durante a noite, custando muito ou pouco tempo para poder adormecer, ou não conseguindo mais adormecer de jeito algum.



No afã de conseguirem dormir, entregam-se ao uso de calmantes e hipnóticos que, se de um lado induzem o sono, de outro impedem seu aprofundamento.



Os terríveis pensamentos pessimistas podem tornar a pessoa ansiosa a ponto de consumir o tempo todo na tentativa de se acalmar por meio de alimentos açucarados, ou ao contrário, deixar-lhes o estômago tão embrulhado de angústia que mal podem se imaginar retendo qualquer alimento no estômago - não comem e emagrecem, às vezes muito (mais de 10% do seu próprio peso). No pro oleiro caso, podem engordar muito; no segundo, emagrecer substancialmente, parecendo muito abatidos e doentes.



O pessimismo e as idéias de inadequação podem ser tão intensas, tão sofridas, que vozes alucinatórias, podem começar a serem ouvidas na sua cabeça, ou ao seu ouvido, que lhe acusam, condenam ou declaram-lhe coisas que podem ser percebidas como horríveis - que têm câncer, AIDS, que é homossexual, que está muito suja, podre, por fora, por dentro, nos seus pensamentos ou nas suas intenções ou desejos (vozes as quais, quem o acompanha, não consegue ouvir; ou de conteúdo, forma ou contexto que denunciam sua irrealidade). Nessas condições, a pessoa pode comumente passar a perceber sua vida e seu sofrimento como insustentáveis. E as idéias e as tentativas de suicídio passam a representar um gravíssimo risco de resultarem efetivamente em morte ou invalidez, e também de violência e homicídio – por exemplo, a fim de poupar aos filhos, à mulher, aos pais, as conseqüências horríveis que antecipa delirantemente. Visões alucinatórias podem também ocorrer, com pessoas mortas, sangue pendente do teto, ou no chão, sempre conservando os temas de luto, perda, morte, deterioração que caracterizam o imaginário típico da depressão.



O pessimismo extremado, ou o sentimento de falha fundamental da pessoa, podem gerar convicções extremas de culpa e desesperança, com os mesmos riscos que acima descrevemos.



Às vozes ou visões assustadoras chamamos de alucinações; às convicções inabaláveis sobre fatos que claramente não correspondem à realidade, e que são profundamente desagradáveis, ou aterrorizadores, chamamos de delírios.



Não apenas na relação da pessoa consigo mesma aparecem os sinais da Depressão. A interação social padece desde a falta de iniciativas sociais, à evitação interpessoal, até o pavor de vir a encontrar pessoas, estranhas e ainda mais conhecidas. Os cuidados deteriorados com a própria aparência e até higiene, expressam tanto sua apatia como a falta de iniciativas com os cuidados pessoais, mas também dão conta da desimportância e rechaço à convivência interpessoal, para o que o aspecto e a higiene são o primeiro convite ou barreira.



Em seu ensimesmamento e auto-apreciação progressivamente deteriorados, a disponibilidade para o amor e o sexo retraem-se, a capacidade para crer-se amável e amado desaparece, ao mesmo tempo em que uma solidão intima insuportável pode dispor-lhe a atos tresloucados, impulsivos, pondo em risco ou em fim fortes laços afetivos anteriores, com o cônjuge, filhos, pais ou amigos.



Como cimos, com a mente preenchida com temas angustiantes, ruminações sem fim, preocupações e temores com doença, ruína financeira, abandono conjugal, não sobra interesse nem atenção para os fatos pragmáticos do cotidiano - o que lhe foi dito, o que leu, o que ficou combinado, quais seus compromissos para o dia, o que vim mesmo fazer aqui.



Quando se unem desatenção, amnésia, apatia, deterioro do auto-cuidado e higiene, temos as condições suficientes para que, numa pessoa idosa, tal quadro possa representar ao observador desavisado um processo de demenciação, um Mal de Alzheimer, uma Demência Pós-Infarto - a chamada Pseudo Demência Depressiva que, ao contrária da verdadeira Demência, permite que o paciente tratado adequadamente retorne, muitas vezes, às suas possibilidades sociais.



Por outro lado, como fator predisponente mais importante para derrames (acidentes cerebrais isquêmicos, principalmente), e já hoje reconhecido risco para Mal de Alzheimer, o diagnóstico e o tratamento adequado de todas estas condições concomitantemente pode ser um desafio para o bom psiquiatra, em especial por causa das múltiplas interações medicamentosas danosas que representam verdadeiras armadilhas para os tratamentos.



Sabemos, já há mais de uma década, que a Depressão é, aguda e/ou cronicamente, o principal fator de risco para as doenças ateroscleróticas e suas complicações, como o acidente vascular cerebral isquêmico e o infarto agudo do Miocárdio, além das arritmias cardíacas, estas mais associadas aos quadros ansiosos, que muito comumente acompanham os sintomas depressivos, com palpitações, tremores, respiração curta e ofegante, na ausência de esforço físico que a explique; além de tremores, sobressaltos, e uma constante expectativa de ocorrência de fatos muito ruins, ameaçadores, desagradáveis ou humilhantes.



Assim, como é uma causa ou fator de risco principal para estes adoecimentos, o infarto agudo, a arritmia cardíaca, o acidente isquêmico cerebral devem ser entendidos, até prova em contrário, como sintomas ou complicações de um quadro depressivo, mais ou menos intenso, mais ou menos prolongado, mais ou menos relacionado com fatos da vida que as pessoas podem considerar significativos e responsáveis pela terrível angustia que os faz padecer, adoecer, não raro até a morte ou a demenciação.



Embora a apatia, a tristeza, a falta de iniciativa sejam típicos comemorativos depressivos, algumas pessoas podem se apresentar com excesso de energia, exaltadas, falando alto, e/ou muito, arrogantes, irritáveis, irritáveis, e estas manifestações não descartam a Depressão, mas devem ser reconhecidas como um quadro depressivo especial, peculiar, para o qual os antidepressivos podem até agravá-lo, aumentando ainda mais os graves riscos que acompanham estes sintomas - suicídio, violência, e outros atos impulso os graves - mas que o mais das vezes sem o devido reconhecimento, ou atribuído a problemas de caráter ou personalidade.



Embora a indústria farmacêutica ensine aos diversos médicos e psiquiatras a prescreverem os produtos que produzem para todas as Depressões, como a insulina para o diabetes, e os anti-hipertensivos para pressão alta, é óbvio que o enfrentamento deste conjunto de sintomas, riscos e complicações é muito mais complexo do que tão somente receitar um medicamento. A começar pela dificílima arte de avaliar o risco real de suicídio, ou de identificar a presença de um sintoma psicótico, ou de um quadro demencial que se esconde por trás de um quadro depressivo, especial as demências de lobo frontal, cujo diagnostico precoce e correto poderá, às vezes resultar num tratamento menos desastrado.


Os novos tratamentos medicamentosos e físicos - como a estimulação magnética transcraniana - parecem oferecer dupla vantagem, sobre a melhora sintomática e sobre a celularidade cerebral, possivelmente retardando o agravamento demencial. Alem disso, é claro que os cuidados exigidos por um depressivo grave devem ser abrangentes, e as Psicoterapias são um componente fundamental deste cuidado, atendendo ao paciente e não raro aos familiares ou responsáveis, no sentido de orientá-los, apoiá-los e protegê-los da frustração e do desamparo ao cuidar de pacientes que os convidam todo o tempo a desistirem deles.