terça-feira, 14 de abril de 2015

O Que a Depressão Não É? Aspectos do atendimento ao paciente suicida.

Depressão não é uma condição mas um estado decorrente de diferentes causas. As depressões cujas causas ou desencadeantes não são conhecidos, ou cujos desencadeantes são desproporcionais ao sofrimento, considerados os valores da pessoa e de seu sub-grupo cultural, assim como aquelas que se apresentam com os chamados sintomas psicóticos (ouvindo vozes ou vendo coisas que não existem, ou desconfiados ou convictos de fatos ou apreciações absurdas) são mais bem tratados com remédios. Mas esta não é a maioria dos casos.

Na maioria das vezes a depressão tem causa definida (médica, experiencial – fatos da vida – ou existencial). Quanto mais clara for a relação causal e a percepção de proporcionalidade entre o sofrimento e seu desencadeante experiencial ou existencial, menos eficazes são os medicamentos, e mais importante é a terapia qualificada. Terapeutas bem qualificados não são fáceis de encontrar, pois o treinamento é via de regra excessivamente incompleto para que conheçam o ser humano, sua existência e suas possibilidades.

Sociologia, antropologia, religião, filosofia, micro-economia, trabalho e estratégias pessoal e coletiva, etc. ficam solenemente de fora da formação dos psicoterapeutas – e são fundamentais para que um terapeuta ajude mais eficazmente um paciente depressivo a encontrar seu caminho através dos problemas que lhe põem depressivo. A hipnose moderna (sem transe) – é um importante aliado potencial, comumente não reconhecido, de todas as formas de terapia, e seu capitulo nas bíblias internacionais da psiquiatria moderna é, não raro mais extenso do que os de outras terapias, dada a sua importância – mas não há treinamento via de regra dos terapeutas nestas habilidades (e quando há, por investimento pessoal, é comumente encarado como um tratamento em si – o que não é).

O tratamento das causas médicas e medicamentosas da depressão tampouco costuma receber o adequado treinamento de psiquiatras, os quais, salvo investimento pessoal, não são treinados devidamente nas artes médicas exigidas para o devido diagnóstico e tratamento destes quadros. E isso tudo, infelizmente, não são fatos exclusivos do Brasil! O resultado é que, apesar de comumente inapropriados, caso-a-caso, o uso de antidepressivos acaba sendo o recurso mais simples, acessível e confiável.

A ideia de que o tratamento psicológico da depressão demora meses a anos não é adequada. Na verdade os medicamentos antidepressivos demoram geralmente entre 2 e 6 semanas, com 1 de cada 3 casos sem qualquer efeito positivo - mesmo assim com possíveis efeitos colaterais (nos que não respondem, tanto como nos que respondem, parcial ou completamente). E pacientes portadores de depressão muito grave, com ideias suicidas, são mais prontamente auxiliados pela boa psicoterapia e pelo forte vínculo profissional com um psiquiatra adequadamente capacitado, e, preferencialmente, rico em recursos para o tratamento da depressão, inclusive, e especialmente, o de bem saber se relacionar e valorizar o contato com a família do paciente – outra deficiência comum nos cursos de formação em psicoterapia e psicoterapia.

Um contato profissional proveitoso do ponto de vista psicológico pode proporcionar alívio desde o primeiro contato, provendo uma redução imediata dos riscos – o que não é promessa, mas é um dos melhores recursos disponíveis.

Nos casos de depressão mais graves e prementes, que impossibilitam inclusive o vínculo assegurador com qualquer profissional de ajuda, até pela grave introversão, mutismo, alienação e, que podem acompanhar um quadro depressivo catatônico, especialmente grave, novamente o simples receituário médico tende a ficar devendo às necessidades emergenciais dos pacientes e suas famílias, pelo tempo longo que podem levar até mostrar efeito suficiente, não oferecendo a imediata segurança necessária contra o risco de suicídio.

Nestes casos, é tradicional e respeitada pelos psiquiatras mais atualizados a intervenção terapêutica pela eletroconvulsoterapia, este tratamento a um só tempo antigo e moderno, por sua resposta muitas vezes muito rápida, mas nem sempre eficaz, nem sem efeitos colaterais.

Outros recursos despontam no horizonte técnico-científico da psiquiatria, com vantagens aparentes sobre a Eletroconvulsoterapia, como a Estimulação Magnética Transcraniana - reservada para os casos mais resistentes - e como os isômeros da Ketamina (cetamina ou quetamina), empregados em ambiente medicamente seguro, por psiquiatra qualificado - tanto para casos muito graves, de necessidade de melhora urgente, como para os quadros resistentes a outros tratamentos.

Engana-se quem pensa que a internação psiquiátrica impede o suicídio em pacientes portadores de depressão muito graves – infelizmente isto não é verdade. Abundam casos trágicos ocorridos em clínicas e hospitais psiquiátricos. Mesmo no paciente internado, mais ainda nestes, talvez, a ministração do tratamento mais rápido, eficaz e seguro segue sendo da maior importância para fomentar a esperança , sem privar o paciente do vínculo, do respeito, e da ajuda existencial e pragmática de que certamente sempre necessitará.

Dr. Sander Fridman é neuropsiquiatra, psicanalista cognitivista e psiquiatra forense. É o responsável pela Clínica das Depressões no CM Adventista Silvestre. Foi o diretor científico e organizador do Serviço de Doenças Afetivas (SEDA) da Santa Casa de Porto Alegre de 1991-1996. É mestre e doutor em psiquiatria pela UFRJ e aluno de pós-doutorado em direito da uerj.